Conteúdo organizado por Natasha Young Buesa em 2023 do livro Aprendizagem Ativa via Tecnologias, publicado em 2019 por Antonio Siemsen Munhoz, pela editora InterSaberes.
Instrução entre Pares ou Peer Instruction.
A Aprendizagem Baseada em Pares ou Peer Instruction, é uma metodologia que foi desenvolvida pelo professor de física aplicada, Eric Mazur, na Universidade de Harvard. Atualmente é considerada uma das metodologias ativas mais usadas em todo o mundo.
Mazur propôs esse método durante uma aula em que fazia a revisão de um conteúdo, logo depois que percebeu, pelo olhar dos alunos, que eles não estavam entendendo absolutamente nada. Aliás, quem nunca percebeu ao ministrar uma aula, ou fazer uma palestra, ou uma apresentação para os colegas na empresa onde trabalha, aquele monte de olho virado para o teto querendo dizer: “meu Deus, o que tudo isso significa? Não estou entendendo nada!”
Outro fator que levou Mazur a aplicar o método foi porque ele também não conhecia outra forma (ou uma forma melhor) de explicar o conteúdo. Foi então que pediu aos estudantes que se juntassem com os colegas mais próximos para discutir sobre o assunto e procurar soluções.
Depois da divulgação dessa experiência, outros professores adotaram e adaptaram esse método e atualmente há muitas variações que não são exatamente iguais à proposta original, mas que são adotadas.
Podemos dizer que a Peer Instruction tem como objetivo aumentar a produtividade na sala de aula, ampliando o interesse dos alunos, motivando-os, a partir de uma discussão entre colegas sobre conteúdo ministrado. (Veraszto & Simon, 2018)
A Instrução pelos pares surge depois da compreensão do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), de Vygotsky. Ao estudar a aprendizagem do ser humano, ele identificou que existem coisas que as pessoas aprendem a fazer sozinhas, coisas que aprendem com o auxílio de outras pessoas e coisas que elas ainda não conseguem aprender (em determinado momento), nem com a ajuda de outras pessoas.
Então, ele organizou essas 3 etapas da seguinte maneira:
É importante ressaltar que a medida que uma aprendizagem proximal vira real, algo que a pessoa só aprenderia com a ajuda de alguém, se transformou em algo que ela já sabe fazer sozinha, e a medida que isso se repete, ela se torna mais capaz.
A função do professor nessa situação é auxiliar o estudante a aprender coisas que ele não conseguiria aprender sozinho.
Levando em consideração que a maior parte das salas de aula é lotada e também diversificada, exige maior habilidade dos estudantes, visto que são poucos os recursos disponíveis para atender às necessidades individuais.
Então, uma solução encontrada é que os próprios estudantes se transformem em recursos de trocas de saberes - de instrução - (daí o nome desta metodologia ativa), e dessa forma os próprios alunos ’ensinam’ para os demais. (Bacarin, 2020)
Quer conhecer mais sobre a Peer Instruction? Então leia os seguintes textos:
Chicon, P. M. M. Chicon; Quaresma, C. R. T. & Garcês, S. B. B.. Aplicação do Método de ensino Peer Instruction para o Ensino de Lógica de Programação com acadêmicos do Curso de Ciência da Computação. https://bit.ly/179081 Acesso em 20 de janeiro de 2025.
Madeira, R. (2017). Aulas colaborativas são foco do Peer Instruction. https://bit.ly/o90i7 Acesso em 20 de janeiro de 2025.
Mazur (1996, como citado em Munhoz, 2019), o criador do método, define a Peer Instruction como uma metodologia ativa que tem como objetivo incentivar o processo de ensino-aprendizagem, levando ao aumento da participação e do interesse do aluno, visto que nesta proposta, ele é estimulado a ler, a pensar e a refletir antes da aula, assim como ocorre na sala de aula invertida.
A Instrução entre Pares é uma das possibilidades de metodologias ativas bem específica, utilizada para aulas mais teóricas, portanto, é preciso escolher bem os conteúdos a serem ministrados nesta modalidade, porque nem todos funcionam bem.
Rocha (2017, como citado em Bacarin, 2020) considera que consiste em uma modificação da aula teórica tradicional, acrescentando perguntas que são elaboradas procurando engajar os alunos a atingirem as dificuldades do conteúdo, por meio do uso de recursos diferenciados e mais lúdicos para transmitir as respostas.
Nesse caso, em vez de um professor fazer uma pergunta de maneira geral para a sala, sendo que provavelmente apenas um responda (e geralmente o mesmo sempre), ele consegue ter a turma toda respondendo ao mesmo tempo.
Figura 1 - Etapas da Peer Instruction
Fonte: Bacarin, 2020, p. 101
Com relação aos objetivos, Mello, Neto e Petrillo (2019) detalham os seguintes:
A Instrução entre Pares começa antes da aula, quando os estudantes recebem as indicações sobre o conteúdo que deve ser estudado, e estudam sozinhos. No momento da aula, o professor faz uma breve exposição do conteúdo a ser abordado. Na sequência, ele apresenta uma questão de múltipla escolha (Concep Test) para que os alunos reflitam e respondam de forma individual.
Caso boa parte dos alunos erre a questão, o docente pode pedir que se reúnam em pequenos grupos para discutirem sobre ela e tentar convencer os colegas de que a resposta escolhida é a certa. No final, o professor avalia novamente as respostas, explica a correta e eventuais dúvidas que ainda existam. (Bacarin, 2020)
Em resumo, a atividade pode ser desenvolvida em alguns momentos, como:
Figura 1 - Etapas da Peer Instruction
Fonte: Bacarin, 2020, p. 101
Na sequência, a partir do nível de acertos e erros dos alunos a aula toma diferentes rumos:
Com esta metodologia, desperta-se nos alunos o sentimento de participação, de comprometimento, de percepção da capacidade (competência) e de valorização dos seus conhecimentos prévios, atingindo-se, desta maneira, o objetivo das aprendizagens ativas que é, além da satisfação pessoal, promover a autonomia dos estudantes, aumentando a influência pedagógica visto que valoriza o papel do docente como orientador e guia.
Mazur (1996, como citado em Munhoz, 2019), explica que o professor, nesta metodologia, se comunica ativamente com seus alunos, tanto pelas redes sociais quanto em sala de aula. Os assuntos tratados estão focados nas dúvidas que os estudantes tiveram enquanto liam os conteúdos em seus estudos independentes, tanto por meio do material multimídia entregue, quanto por meio dos links com artigos associados ao conteúdo de interesse.
Portanto, o método é simples, porém precisa de disciplina em sua aplicação e, principalmente, a participação ativa de todos os alunos.
Ressaltamos que o problema/questão é colocado para toda a sala, o que diferencia esta metodologia da ABP, em que cada grupo escolhe o problema que lhe interessa mais.
E mais, sempre que há mudança de tema deve ser feito um relatório, no qual fica registrada a evolução de cada aluno, gerando um registro do progresso de toda a turma, o que corresponde a uma avaliação formativa.
O ideal seria que o estudo e aprendizagem com este método fosse interdisciplinar e que um problema fosse sendo somado a outro problema, e que agregasse todo o curso, mas na prática não é o que acontece, e alguns professores terminam empregando esta metodologia por vontade própria.
Com relação às vantagens, Mazur (1996, como citado em Munhoz, 2019) considera o engajamento mental dos aprendizes, visto que são estimulados a pensar, a participar do debate coletivo e com seus pares. Afirma que o trabalho feito entre os alunos (entre os pares) melhora a capacidade de reflexão, o desenvolvimento conceitual, estimulando o aprender fazendo, com resultados mais concretos.
Os alunos, por sua vez, consideram como vantagem o retorno (feedback), pois o monitoramento feito pelo computador (ou aplicativo, ou sistema) tende a ser mais exato e a estatística pode ser aplicada para emitir relatórios mais efetivos. (Munhoz, 2019)
Compreender nesta aula que a Instrução entre Pares é uma metodologia ativa que modifica a forma de ministrar uma aula expositiva, conceitual. Ela começa antes mesmo da aula, quando os estudantes recebem as indicações sobre o conteúdo a ser estudado, e estudam sozinhos. Em sala de aula, o professor faz uma breve exposição do conteúdo e apresenta uma questão de múltipla escolha (Concep Test) para que os alunos reflitam e respondam de forma individual. Conforme o nível de acertos e de erros, a aula vai tomando outros rumos, até o fechamento, no qual o professor resume a resposta correta para a sala toda e emite um relatório com a evolução dos estudantes. Ela favorece a interação em sala de aula, estimula o debate sobre os temas mais difíceis do conteúdo, aumenta a produtividade e o interesse dos alunos, e proporciona feedback constante.
Referências
Bibliográficas
Bacarin, Ligia Maria Bueno Pereira. (2020) Metodologias Ativas. [livro eletrônico] Curitiba: Contentus.
Mello, Cleyson de Moraes; Neto, José Rogério Moura de Almeida; & Petrillo, Regina Pentagna. (2019) Metodologias Ativas: desafios contemporâneos e aprendizagem transformadora. [livro eletrônico] 2ª ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos.
Munhoz, Antonio Siemsen. (2019). Aprendizagem Ativa via Tecnologias. [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes.
Veraszto, Estéfano Vizconde; & Simon, Fernanda Oliveira. (2018). Metodologias ativas. São Paulo: Ufscar.
Teorias e Práticas de Aprendizagem Ativa - EDU682 - 2.5
Instrução entre Pares ou Peer Instruction.
Imagens: Shutterstock
Livro de Referência:
Aprendizagem ativa via tecnologias
Antonio Siemsen Munhoz
InterSaberes, 2019